segunda-feira, 13 de abril de 2009

... INICIAÇÃO ...





Acredito que nada nos chega por acaso... seja uma carta, uma pessoa, um olhar, uma palavra, um conselho, uma indicação... tudo tem seu momento e sua hora! Por indicação, delicio-me com o livro “Mulheres que correm com lobos”... e a passos largos, porém cuidadosos, entrego-me à minha descoberta... Como uma loba à espreita, investigo quem fui, o que sou e o que há de ser.
Imersa em minha leitura, vasculho a gaveta de meu passado. Lembro-me de um workshop astrológico que participei, na busca da cura de uma separação, cura do abandono de amigos e emprego, em busca de um resgate de quem eu era. Na vivência desse workshop descobri habitar em mim uma índia anciã (provavelmente interessada e preocupada em minha cura) e uma pantera negra de olhar profundo e amarelo intenso e vibrante (animal este que na simbologia representa morte e o que há de diabólico no indivíduo). Carregava de verdade toda a experiência.

Naquela época encontrei um parceiro ideal para vida, um caminho de iluminação e ascensão... mas meu mundo estava míope... sem foco... não conseguia vivenciar nem uma coisa e nem outra... afinal vivia dominada e fixada no olhar de uma pantera negra... buscava incansavelmente retomar a pessoa que fui antes a entrega à paixão... Meu mundo cheirava a morte e ao que morria em mim...
Durante muito tempo, e confesso até suspiros atrás, não havia me dado conta do imenso boicote a que venho me flagelando. Hoje enxergo que jamais voltarei ao que era... a pantera negra fazia seu ritual de morte não da vida que levava, como acreditava. Mas ao me olhar fixamente, ela anunciava a morte de quem eu tinha sido.

“Aquele que recria a partir do que está morto é sempre um arquétipo de duas faces. A Mãe Criadora é sempre também a Mãe Morte, e vice-versa. Em virtude dessa natureza dual, ou duplicidade de função, a grande tarefa diante de nós consiste em aprender a compreender em nossa volta e dentro de nós exatamente o que deve viver e o que deve morrer. Nossa tarefa reside em captar a situação temporal de cada um: permitir a morte àquilo que deve morrer, e a vida ao que deve viver” (pg.50).

Hoje enterro muitos dos sonhos, planos, esperanças e anseios que tive. Faço uma observação e constatação ao título deste blog e às postagens anteriores... não havia consciência que os sonhos que não existem mais dizem respeito a outra pessoa... que só existe no passado... agora é tempo, é hora de reconstruir, de recomeçar... mas como uma loba recém descoberta ainda temo... ainda tremo... é preciso ainda olhar os papéis que desempenho e ir com calma...

“(...)descubra os corpos, siga os instintos, veja o que estiver vendo, reúna energia psíquica, acabe com a energia destrutiva. (...)Na realidade externa encontramos mulheres planejando suas fugas, seja de um antigo estilo destrutivo, de um amante, seja de um emprego. Ela para para ganhar tempo, ela espera a hora certa, ela planeja sua estratégia e reúne suas forças interiores antes de realizar uma mudança externa. As vezes é exatamente esse tipo de ameaça imensa do predador que faz com que a mulher deixe de ser um amor de pessoa que se adapta a tudo e passa a ter o olhar suspeito dos desconfiados” (pg.81).

Rio o quanto meu inconsciente vem pedindo por mudança... por urgência... há anos sempre tenho um sonho recorrente, com um avião caindo e explodindo próximo a mim. O avião simboliza minha viagem interior e pessoal. Assim como também os sonhos e planos passados... que insisti que voltassem, que fosse retomada a vida que tinha antes de me entregar à paixão. A explosão, a morte, o medo e terror no sonho me mostram agora aquilo que já não existe. E o quanto é urgente deixar o novo surgir... com aquilo que fui e com aquilo que sou... Um campo iniciático se abriu para mim... para que meus talentos sejam (re)valorizados... para que surjam amores e caminhos... para que eu me torne e aconteça. A vida me pede mudanças extremadas, atitude!!!


“Nesses casos, o sonho com o homem sinistro muito embora acompanhado de um medo que sobressalta o coração, não é um sonho agourento. Ele é muito positivo e trata de uma necessidade correta e oportuna de acordar para um movimento destrutivo dentro da própria psique; para aquilo que está furtando nosso fogo; intrometendo-se na nossa energia; roubando de nós o lugar, o espaço, o tempo e o território para a criação” (pg.94).

Sinto agora necessidade de um encontro com minha índia anciã e minha pantera negra... para que repousem e descansem em paz em mim... permitindo à minha jovem (aos menos aos meus sentidos) loba uma linda e intensa jornada. Pois me permitirei, acenderei meu fogo, me inundarei de energia e seguirei um novo caminho... do que sou feita agora... sem excluir minhas dores de ontem... mas vislumbrando um amanhã radiante... a partir de hoje esse blog diz respeito aos pensamentos, sentimentos e palavras de quem jamais deixará de sonhar... apenas sonha outros sonhos...

Para finalizar:

“Antigos anatomistas falaram de o nervo auditivo dividir-se em três caminhos nas profundezas do cérebro. Eles concluíram que o ouvido devia, portanto, funcionar em três níveis diferentes. Um deles seria o das conversas rotineiras da vida. Um segundo seria dedicado à aprendizagem e à arte. E o terceiro existiria para que a própria alma pudesse ouvir orientações e adquirir conhecimento enquanto estivesse aqui na terra” (Pg.41-42).

Como diz o inspiradíssimo (delíííciiiiiaaaaaa :D)Fernando Anitelli, criador da trupe O Teatro Mágico, que eu possa sempre “ouvir com outros olhos”. Mais apurados agora graças à loba que se faz em mim. E que assim se dê minha iniciação de uma outra jornada... em meios a uivos... de uma loba do pelo branco como a neve...

OBS: Citações extraídas do livro “Mulheres que correm com lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem”, de Clarissa Pinkola Estes (Editora Rocco).

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