Acredito que nada nos chega por acaso... seja uma carta, uma pessoa, um olhar, uma palavra, um conselho, uma indicação... tudo tem seu momento e sua hora! Por indicação, delicio-me com o livro “Mulheres que correm com lobos”... e a passos largos, porém cuidadosos, entrego-me à minha descoberta... Como uma loba à espreita, investigo quem fui, o que sou e o que há de ser.
Imersa em minha leitura, vasculho a gaveta de meu passado. Lembro-me de um workshop astrológico que participei, na busca da cura de uma separação, cura do abandono de amigos e emprego, em busca de um resgate de quem eu era. Na vivência desse workshop descobri habitar em mim uma índia anciã (provavelmente interessada e preocupada em minha cura) e uma pantera negra de olhar profundo e amarelo intenso e vibrante (animal este que na simbologia representa morte e o que há de diabólico no indivíduo). Carregava de verdade toda a experiência.
Naquela época encontrei um parceiro ideal para vida, um caminho de iluminação e ascensão... mas meu mundo estava míope... sem foco... não conseguia vivenciar nem uma coisa e nem outra... afinal vivia dominada e fixada no olhar de uma pantera negra... buscava incansavelmente retomar a pessoa que fui antes a entrega à paixão... Meu mundo cheirava a morte e ao que morria em mim...
Durante muito tempo, e confesso até suspiros atrás, não havia me dado conta do imenso boicote a que venho me flagelando. Hoje enxergo que jamais voltarei ao que era... a pantera negra fazia seu ritual de morte não da vida que levava, como acreditava. Mas ao me olhar fixamente, ela anunciava a morte de quem eu tinha sido.
“Aquele que recria a partir do que está morto é sempre um arquétipo de duas faces. A Mãe Criadora é sempre também a Mãe Morte, e vice-versa. Em virtude dessa natureza dual, ou duplicidade de função, a grande tarefa diante de nós consiste em aprender a compreender em nossa volta e dentro de nós exatamente o que deve viver e o que deve morrer. Nossa tarefa reside em captar a situação temporal de cada um: permitir a morte àquilo que deve morrer, e a vida ao que deve viver” (pg.50).
“(...)descubra os corpos, siga os instintos, veja o que estiver vendo, reúna energia psíquica, acabe com a energia destrutiva. (...)Na realidade externa encontramos mulheres planejando suas fugas, seja de um antigo estilo destrutivo, de um amante, seja de um emprego. Ela para para ganhar tempo, ela espera a hora certa, ela planeja sua estratégia e reúne suas forças interiores antes de realizar uma mudança externa. As vezes é exatamente esse tipo de ameaça imensa do predador que faz com que a mulher deixe de ser um amor de pessoa que se adapta a tudo e passa a ter o olhar suspeito dos desconfiados” (pg.81).
“Nesses casos, o sonho com o homem sinistro muito embora acompanhado de um medo que sobressalta o coração, não é um sonho agourento. Ele é muito positivo e trata de uma necessidade correta e oportuna de acordar para um movimento destrutivo dentro da própria psique; para aquilo que está furtando nosso fogo; intrometendo-se na nossa energia; roubando de nós o lugar, o espaço, o tempo e o território para a criação” (pg.94).
Para finalizar:
“Antigos anatomistas falaram de o nervo auditivo dividir-se em três caminhos nas profundezas do cérebro. Eles concluíram que o ouvido devia, portanto, funcionar em três níveis diferentes. Um deles seria o das conversas rotineiras da vida. Um segundo seria dedicado à aprendizagem e à arte. E o terceiro existiria para que a própria alma pudesse ouvir orientações e adquirir conhecimento enquanto estivesse aqui na terra” (Pg.41-42).
OBS: Citações extraídas do livro “Mulheres que correm com lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem”, de Clarissa Pinkola Estes (Editora Rocco).
Nenhum comentário:
Postar um comentário